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Cirurgia Bariátrica

Cirurgia Bariátrica

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A obesidade

A obesidade nos últimos anos passou por diversas transformações no seu conceito. Considerada anteriormente como uma consequência da gula e da falta de força de vontade, hoje ela tem suas bases fisiopatológicas mais esclarecidas. Além de ser uma doença crônica e de múltiplas causas, ela também apresenta diversos riscos para a saúde do indivíduo, tanto nas esferas orgânicas quanto nas psíquicas.

A obesidade mórbida é uma doença crônica grave que põe em risco a vida do indivíduo por estar associada a outras complicações orgânicas. Sua etiologia é complexa e multifatorial, ou seja, apresenta diversos fatores (genes, ambiente, estilo de vida e fatores emocionais) na sua raiz e que, interligados, desencadeiam a doença.

Entre os principais fatores para alguém se tornar obeso estão os aspectos psicológicos. É vasta a literatura psicológica que se propõe a entender de que modo, ao longo da história do indivíduo, se organiza a sua maneira de lidar com o alimento e que tipo de alterações nesse processo poderiam levar ao descontrole ou ao abuso dietético.

A família, núcleo primário no qual se desenvolve o indivíduo, tem importância fundamental na etiopatogenia e na persistência dos hábitos alimentares exagerados. Uma série de condutas alimentares, permeadas por fatores constituintes e herdados, é transmitida de geração a geração dentro de uma família, de sorte que, ao nascer, a criança passa a ser depositório de todos os gostos e formas de comer do grupo familiar.

Fazer ou não fazer a gastroplastia

A cirurgia bariátrica, apesar de ser uma das opções para o tratamento da obesidade grave, também pode acarretar diversas complicações na saúde do paciente, especialmente no período pós-operatório. Tais complicações podem ser minimizadas quando o indivíduo recebe tratamento adequado e especializado durante a fase pré-operatória.

Por outro lado, sabemos também que os resultados no tratamento clínico (não cirúrgico) para esses pacientes são estatisticamente desanimadores e que essa patologia pode produzir sequelas físicas, comorbidades. Questiono-me se a melhor solução é a de criticar a alternativa cirúrgica sem, ao menos, debruçarmo-nos especificamente sobre novas maneiras de auxiliar esses pacientes.

Acredito que a tendência do recurso cirúrgico é de se alastrar e de se modernizar. Ademais, essa intervenção cirúrgica não tem em vista apenas o emagrecimento em si, mas também vem proporcionando muitas melhoras metabólicas.

A cirurgia é, sem sombra de dúvida, uma alternativa muito interessante para a obesidade mórbida, cuja estatística de resultados de emagrecimento por outros métodos de tratamento é desanimadora. Certamente ela deverá ser muito bem pensada como qualquer outra decisão importante na nossa vida. Desaconselho realiza-la num ato de impulsividade.

O indivíduo não emagrece única e exclusivamente pela cirurgia. Ela é somente uma aliada, aliás, uma grande aliada ao processo de emagrecimento, mas a cada indivíduo operado ainda caberá um importante papel. A parte que caberá a cada um normalmente ficará a encargo do trabalho da psicologia.

O papel da Psicologia neste processo

É consenso na literatura científica que os atendimentos deste pacientes sejam realizados por profissionais capacitados, objetivando não somente fornecer a avaliação psicológica, mas também orientar e preparar o candidato para uma intervenção radical, irreversível e que exigirá dele envolvimento, mudança de hábitos e responsabilidade para toda a vida.

Além disso, é muito importante incentivar o paciente a encontrar recursos emocionais para lidar com as questões da obesidade, do emagrecimento e do que isto significa em sua vida, destacando o autocuidado como um caminho para a adesão ao tratamento. Tratar a obesidade é difícil e com a cirurgia ela continua difícil.

É preciso considerar que a resolução da obesidade pelo recurso da cirurgia é algo semelhante a cortar uma erva daninha em seu caule sem retirar a raiz e, então, caso existam fatores relativos, por exemplo, a ansiedade e impulsividade na sua raiz, ela poderá emergir numa outra faceta de impulsividade.

Muitos indivíduos tem expectativas de que, com o emagrecimento, sofrerão menos preconceitos, terão menos dificuldades de conseguir um emprego ou um (a) companheiro (a), etc. No entanto, torna-se muito arriscado quando se espera que tudo isso seja fruto exclusivo de se estar magro.

As dificuldades relativas à concorrência do mercado de trabalho, à autoestima, aos problemas de ordem social e afetivo-sexual não são resultados únicos e exclusivos do peso. São sempre variados os fatores que introduzem dificuldades deste tipo. É assim que, nesses casos, a frustração dessa cirurgia torna-se um suporte para um quadro depressivo maior, quando já se tem esse precedente. “Arriscar todas as cartas” esperando do emagrecimento uma solução mágica para todos os problemas não só é muito comum, como também pode ser extremamente perigoso para esses pacientes.

Portanto, a justificativa para essa cirurgia merece ser pensada e repensada nas sessões de preparo psíquico, pois são os pacientes com ilusões desse tipo que colocarão a mão na cabeça após o emagrecimento e dirão: “enfim magros! E daí?”

Preparação pré-cirúrgica

A velocidade da ingestão de alimentos e alguns hábitos alimentares são trabalhados em sessões previamente à cirurgia, é o que chamamos de preparação pré-cirúrgica. Dessa forma, temos condições de prevenir os desagradáveis episódios de vômitos que dificultam o processo de cicatrização logo após esse procedimento.

Os indivíduos que têm hábitos alimentares de apenas uma ou duas refeições ao dia terão de passar por uma readaptação nos seus cotidianos. Longos intervalos alimentares no pós-cirúrgico podem se tornar precedentes, por exemplo, de coma hipoglicêmico em pacientes diabéticos ou podem colaborar para o desencadeamento de transtornos alimentares.

Manejo pós cirúrgico e manutenção

Nada se constrói “da noite para o dia”. Até se construir uma obesidade Grau III há por detrás disso, em alguns casos clínicos, uma infinidade de opções mórbidas de vida. Ou seja, existe, em alguns indivíduos, um jeito “mórbido” de lidar com a própria vida.

São pacientes sem tempo para realizar uma alimentação adequada, sem tempo para um passeio a pé, sem se dar o direito de brincar com os filhos (nem nos finais de semana), de andar de bicicleta, nadar, etc. E a cirurgia poderá contribuir somente com a impulsividade alimentar e não sobre os prejuízos desse modo impulsivo de lidar com a própria vida que permanecerá presente em outras facetas cotidianas. O procedimento dará conta de parte da morbidade corporal, mas não dos prejuízos desse modo de ser.

Em alguns casos clínicos, o comer excessivo é uma válvula de manifestação de determinados sentimentos, como angústia, desilusões, agressividade, etc. Trata-se de indivíduos que recorrem à comida quando estão com raiva ou tristes com grande intensidade.

Constatando dificuldades nessas circunstâncias, faz-se necessário que esses pacientes recorram à ajuda da psicoterapia após a cirurgia, objetivando a criação de novos canais e desenvolvimento de recursos potenciais para a resolução desses problemas.

O pós-operatório da “redução de estômago” normalmente é sucedido por desconfortos digestivos. Os episódios de vômitos, as náuseas ou a sensação de ter “ficado entalado” com o que comeu segundo o relato de muitos pacientes, prejudicam seriamente a sua adaptação em diversos âmbitos, como no convívio social, profissional, familiar, etc.

Constatamos que, a partir do uso de algumas técnicas podemos contribuir para uma recuperação pós-cirúrgica satisfatória. Podemos atuar preventivamente em muitos dos problemas digestivos, na cicatrização pós-cirúrgica, especialmente nos primeiros 60 dias, nos riscos dos distúrbios metabólicos, de esofagite, do desencadeamento de uma bulimia.

Assim proporcionamos ao paciente uma maior tranquilidade, um menor sofrimento e uma melhor qualidade de vida. Entendemos também que tais mudanças comportamentais atuarão com um caráter preventivo na manutenção do emagrecimento em longo prazo no pós-cirúrgico.

“Se os distúrbios psicológicos são causa ou consequência da obesidade ainda parece ser uma questão aberta. No entanto, pensar que não existe tipo algum de relação entre a ela e os fenômenos psíquicos seria retornar a uma concepção dicotômica de ser humano, em que mente e corpo são entendidos como duas entidades separadas e independentes uma da outra. A obesidade, enquanto doença crônica, demanda uma compreensão global que contemple aspectos psicológicos em um conjunto articulado de fenômenos, cujo sintoma manifesto é engordar.” (BENEDETTI, 2003, p. 40).

Suellen Mengatto (CRP 12/09970)

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